segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Krishnamurti - solidão



Sobre a solidão 

O “eu”, pois, é o criador daquele vazio. O “eu” é o vazio; o “eu” é um processo egocêntrico, no qual estamos cônscios daquela extraordinária solidão. Assim, estando cônscios dela, tentamos a fuga por meio de várias formas de identificação. A essas identificações chamamos preenchimento. Na realidade não existe preenchimento, porque a mente, o “eu”, nunca pode preencher-se; pela sua própria natureza, o “eu” é egocêntrico.

Nossa dificuldade, por conseguinte, consiste em estarmos cônscios desse vazio, desse isolamento. Nunca nos vemos frente a frente com ele. Não sabemos como ele é, quais são as suas qualidades; porque vivemos continuamente a fugir dele, retraindo-nos, isolando-nos, identificando-nos. Nunca estamos em presença dele, diretamente, em comunhão com ele. Por isso, somos “observador” e “coisa observada”. Isto é, a mente, o “eu”, observa o vazio; e, então, o “eu”, o pensador, trata de livrar-se desse vazio, ou de fugir. (Quando o Pensamento Cessa, pág. 179)

Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos com essa solidão, com esse vazio; e, com a aceitação desse vazio, veremos surgir um estado criador completamente isento de luta e de esforço. O esforço só existe enquanto desejamos evitar o vazio interior; mas, se o olharmos bem (…) sem nenhum desejo de evitá-lo, veremos surgir um “estado de ser” no qual cessou toda a luta. Esse estado de ser é o estado criador (…)

É só quando somos criadores que há felicidade completa, generosa. Mas a criação não provém de esforço, visto que o esforço é uma fuga do que é. Mas quando há compreensão do que é, que é nosso vazio, nossa insuficiência interior, quando nos deixamos ficar com essa insuficiência e a compreendemos plenamente, surge a realidade criadora, a inteligência criadora, a única coisa que traz felicidade. (A Arte da Libertação, pág. 109)

Porque, nesse silêncio, há renovação, aquela renovação não compreensível à mente que está ligada ao tempo. (…) Nesse silêncio, nesse estado, há criação, a criação que vem de Deus, da Verdade. (…) (Poder e Realização, pág. 84)