sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Nisargadatta Maharaj - O que é a testemunha?
Pergunta: O que é a testemunha? É a mente ou é algo além da mente?
Maharaj: É o conhecedor da mente.
P: Se digo “eu sou”, isso vem da mente?
M: O sentido de ser expressa-se através da mente com as palavras “eu sou”.
P: Nos livros dos seus discursos traduzidos para o inglês as palavras destino e justiça são usadas. Elas são o mesmo que o Karma?
M: Justiça é a decisão dada. Destino é o depósito de impressões do qual toda esta manifestação flui. É o princípio do qual você emanou. É algo como o negativo de um filme; a consciência já está presente naquela fonte da qual você emanou e dessa forma o filme está sendo projetado. O que será projetado já está gravado. Assim, quaisquer atividades que aconteçam através desse sentido de ser– o qual é você – são o seu destino. Cada ação ou cada passo que esse sentido de ser irá tomar já estará registrado no filme.
P: São as estrelas que apresentam esse negativo, como dizem alguns astrólogos?
M: Isso é um perjúrio. Nove meses antes de seu nascimento o destino foi criado.
P: Por quem?
M: Ninguém, simplesmente acontece.
P: O negativo existe antes do destino começar? Onde esse negativo é impresso?
M: Esse é um atributo de Mula-Maya (a ilusão primordial).
P: Muitas pessoas acreditam que elas colhem o que plantam, dessa forma em algum momento anterior elas plantaram a estrutura negativa.
M: É apenas boato isso. Você tem alguma evidência disso?
P: Não.
M: Maya é a fonte primária da ilusão. Naquele momento o amor por Ser inicia-se. O “eu sou”, o amor por existir. Sua expressão é toda esta manifestação.
P: Por que algumas pessoas têm mais amor por esse falso ser do que outras?
M: Não é o caso de uma pessoa amar mais do que a outra, o estado de amor está presente e você tem que desfrutar ou sofrer dele. Mesmo quando sofremos nós amamos esse sentido de ser.
P: Quando praticamos o testemunhar isso ocorre conscientemente?
M: O que você quer dizer com praticar o testemunhar? O que você está tentando fazer é intensificar seu próprio sentido de ser. O testemunhar acontecerá automaticamente, mas o Ser deve abrir-se. Ainda antes do testemunhar você é.
P: Maharaj pediu-me para aquietar-me, mas meu estilo de vida dificulta que isso aconteça, meu trabalho tem um monte de pressão e atividade. Você recomendaria que eu mudasse de trabalho?
M: Eu não falo faça isso faça aquilo. Faça o que quiser, saiba apenas que você não é o ator, as coisas simplesmente acontecem. O destino que veio à existência no primeiro dia da concepção está desenrolando-se. Não há nenhuma ação que você possa alegar autoria. Uma vez que você sabe quem você é, esse destino não lhe limita mais.
P: O que as pessoas que morrem fazem para perceber que elas não têm corpo?
M: Nada acontece, ninguém morre. Os textos sagrados dizem que aqueles que morrem com conceitos indissolvidos irão renascer.
P: Quando renascem eles têm escolha de corpos diferentes ou de ir para a família A ou B?
M: Por que você se preocupa com assuntos alheios a você assim? Concentre em converser a si mesmo que você não é o corpo. Este corpo é feito dos cinco elementos e é realmente um corpo comida, você não tem parte nisso. Este corpo-comida não se refere a você. A força vital, a respiração e o sentido de ser dependem de comida e água. Sem comida e água o sentido de “eu sou” (I amness) fica ausente.
P: Mas o sentido de “eu sou” retorna posteriormente então?
M: Você não é nenhuma dessas coisas. Não há a questão de renascimento.
P: Parece que algo com o nome de comida está pairando no ar. Você pode constituir um corpo a partir disso e se você tiver conceitos errados você aterriza naquele corpo. Na verdade, me parece que está implícito no ensinamento que não existe tal coisa como a comida e o corpo-comida, eles são apenas um conceito.
M: De que nível você está falando agora? Como você entende que o corpo não está aí, que ele vem da mente?
P: Estou compreendendo isso a partir do que Maharaj diz no livro.
M: Você teve essa realização?
P: Se tivesse realizado teria me tornado um Jnani.
M: Exatamente. Até que isso ocorra o corpo nasce da maneira como todos os corpos nascem.
P: Da maneira que as coisas são para nós agora, temos um conceito de um corpo que deveríamos aceitar e não criar um outro conceito de que não existe o corpo?
M: Vá para a fonte. Quem sabe que existe o corpo? Algo é anterior à criação do corpo.
P: Todos os esforços que fazemos a esse respeito têm algum efeito em destruir o sentido de “eu sou”, ou isso é parte do filme? De modo que os esforços que as pessoas pensam que estão fazendo para alcançar o objetivo não têm efeito, está tudo contido naquele filme?
M: Esteja naquela fonte que é a luz por trás da consciência, entenda ela. O que está acontecendo naquele Mula-Maya.
A fita cassete grava o que estou falando, mas o que quer que esteja na fita não sou eu. Do mesmo modo que a voz original não está na fita também você está separado da química, do corpo, do sentido de eu sou, da consciência.
P: A realização está no filme?
M: Não pode estar no filme porque você é o conhecedor daquele filme. Agora pondere sobre o que você escutou e volte as cinco horas.
Essa mente é apenas um acúmulo de pensamentos que estão presentes na manifestação. Todas as suas atividades dependem da mente e a mente depende de todas as suas memórias e daquilo que você ouviu neste mundo.
Estamos absorvendo aquilo que acontece no mundo e estamos olhando para isso do nosso próprio ponto de vista, colocando nossos próprios conceitos nessas coisas. E por essa consciência corpo-mente absorver tudo o que acontece no mundo, nós vamos dando a essa consciência “eu sou”o crédito de ter outras vidas, nascimento, karma, etc. Você aceita certas coisas como virtuosas e boas e rejeita outras como pecaminosos e más, mas esses são apenas conceitos que você adquiriu no mundo e não há base para distinção.
P: Ontem Maharaj falou sobre os chakras (centro de energia psíquica no corpo) e sobre brahma-randra. Questiono-me se devemos se devemos nos ater a essas coisas em nossa meditação.
M: Esqueça a respeito dos chakras. Atenha-se ao conhecimento “eu sou” e torne-se um com ele, isso é meditação.
P: Quem é que vai segurar-se no “eu sou”?
M: Quem está fazendo essa pergunta?
P: Estamos aptos a ir além de nossos pensamentos, ou no estado absoluto os pensamentos são apenas parte do filme? E se são, temos apenas que ter paciência com eles?
M: Quem quer ir além dos pensamentos? Quem é esse? Antes da consciência aparecer no estado de vigília, esse é o Absoluto, assim que a consciência aparece os pensamentos surgem. Você não tem que ter paciência com eles, nem descartá-los, apenas conheça-os.
P: Todas as outras coisas que determinam quem você chama de Original, elas não existem?
M: Mas isso é apenas quando você atinge o estado original, quando você é um Jnani.
P: Nós já somos isso.
M: Se fossem não haveriam questões e vocês não estariam aqui.
Nisargadatta Maharaj - O orgulho do êxito pessoal
“Trabalhei duramente e agora me considero um homem bem sucedido. Eu seria um hipócrita se não admitisse que me sinto muito satisfeito e, sim, também, um tanto quanto orgulhoso do meu êxito pessoal. O que teria de errado nisso?”
Certa manhã, um visitante estrangeiro dirigiu-se a Sri Nisargadatta Maharaj com estas palavras. Era um homem de quarenta e poucos anos – presunçoso, autoconfiante e um pouco agressivo. A conversa prosseguiu então como se segue:
Maharaj: Antes de considerarmos o que é ‘certo’ e o que é ‘errado’, por favor, quem faz esta pergunta?
Visitante: (Um pouco surpreso) Como? ‘Eu’, certamente.
M: E quem é esse?
V: Eu. Este ‘eu’, quem está sentado em frente de você.
M: E você pensa que você é isso?
V: Você me vê. Eu me vejo. Onde está a dúvida?
M: Você quer dizer este objeto que está diante de mim? Qual é sua mais antiga lembrança desde objeto que pensa ser? Retroceda tanto quanto possa.
V: (Depois de um minuto ou dois) A recordação mais antiga seria talvez estar sendo cuidado e abraçado por minha mãe.
M: Como uma criança pequena, você quer dizer. Diria que o homem bem sucedido de hoje seria a mesma criança desamparada, ou seria um outro alguém?
V: Sem dúvida, é o mesmo.
M: Bem. Agora, se você pensar mais para trás, concordaria que essa criança, da qual lembra, é a mesma que nasceu de sua mãe e que uma vez foi tão desamparada que não se dava conta sequer do que acontecia quando seu corpo realizava suas funções físicas naturais, e só podia chorar ao sentir dor ou fome?
V: Sim, eu era aquela criança.
M: E o que você era antes que a criança adquirisse um corpo e nascesse?
V: Eu não entendo.
M: Você entende. Pense. O que aconteceu no útero de sua mãe? O que se desenvolveu em um corpo com ossos, sangue, medula, músculos, etc., durante um período de nove meses? Não foi um espermatozóide que, combinado com o óvulo no ventre feminino, deu início a uma nova vida e, no processo, passou por numerosos perigos? Não foi aquela infinitesimalmente pequena célula de esperma que, agora, está tão orgulhosa de seus êxitos? Quem pediu por você em particular? Sua mãe? Seu pai? Queriam particularmente você como filho? Você tem algo a ver com o ser nascido desses pais em particular?
V: Estou receoso, nunca havia pensado nisto.
M: Exatamente. Reflita a este respeito. Então, talvez, você terá alguma idéia de sua verdadeira identidade. Depois disto, considere se você poderia possivelmente estar orgulhoso do que você ‘alcançou’.
V: Penso que começo a entender o que você quer dizer.
M: Se você se aprofundar no assunto, compreenderá que a origem de seu corpo – o espermatozóide e o óvulo – é em si mesma a essência do alimento consumido pelos seus pais; que a forma física está composta e se alimenta dos cinco elementos que constituem o alimento; e também que, com muita freqüência, o corpo de uma criatura torna-se o alimento de outra.
V: Mas, certamente, eu, como tal, devo ser alguma coisa distinta deste corpo-alimento.
M: Sem dúvida que você é, mas não alguma ‘coisa’. Descubra o que é aquilo que dá sensibilidade a um ser sensível, aquilo sem o qual você nem mesmo saberia que você existe, sem falar no mundo exterior. E, finalmente, vá mais fundo ainda e examine se esta qualidade de ser, esta própria consciência, não está sujeita ao tempo.
V: Deverei, certamente, penetrar nas várias questões que você levantou, embora deva confessar que nunca explorei estas áreas antes, e me sinto quase tonto em minha ignorância dos novos campos que você abriu diante de mim. Voltarei a vê-lo novamente, senhor.
M: Será sempre bem-vindo.
"Sinais do Absoluto" Pointers from Nisargadatta
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