sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nisargadatta Maharaj - O que é a testemunha?


Pergunta: O que é a testemunha? É a mente ou é algo além da mente?

Maharaj: É o conhecedor da mente.

P: Se digo “eu sou”, isso vem da mente?

M: O sentido de ser expressa-se através da mente com as palavras “eu sou”.


P: Nos livros dos seus discursos traduzidos para o inglês as palavras destino e justiça são usadas. Elas são o mesmo que o Karma?


M: Justiça é a decisão dada. Destino é o depósito de impressões do qual toda esta manifestação flui. É o princípio do qual você emanou. É algo como o negativo de um filme; a consciência já está presente naquela fonte da qual você emanou e dessa forma o filme está sendo projetado. O que será projetado já está gravado. Assim, quaisquer atividades que aconteçam através desse sentido de ser– o qual é você – são o seu destino. Cada ação ou cada passo que esse sentido de ser irá tomar já estará registrado no filme.


P: São as estrelas que apresentam esse negativo, como dizem alguns astrólogos?

M: Isso é um perjúrio. Nove meses antes de seu nascimento o destino foi criado.

P: Por quem?

M: Ninguém, simplesmente acontece.

P: O negativo existe antes do destino começar? Onde esse negativo é impresso?

M: Esse é um atributo de Mula-Maya (a ilusão primordial).

P: Muitas pessoas acreditam que elas colhem o que plantam, dessa forma em algum momento anterior elas plantaram a estrutura negativa.

M: É apenas boato isso. Você tem alguma evidência disso?

P: Não.

M: Maya é a fonte primária da ilusão. Naquele momento o amor por Ser inicia-se. O “eu sou”, o amor por existir. Sua expressão é toda esta manifestação.

P: Por que algumas pessoas têm mais amor por esse falso ser do que outras?

M: Não é o caso de uma pessoa amar mais do que a outra, o estado de amor está presente e você tem que desfrutar ou sofrer dele. Mesmo quando sofremos nós amamos esse sentido de ser.

P: Quando praticamos o testemunhar isso ocorre conscientemente?

M: O que você quer dizer com praticar o testemunhar? O que você está tentando fazer é intensificar seu próprio sentido de ser. O testemunhar acontecerá automaticamente, mas o Ser deve abrir-se. Ainda antes do testemunhar você é.

P: Maharaj pediu-me para aquietar-me, mas meu estilo de vida dificulta que isso aconteça, meu trabalho tem um monte de pressão e atividade. Você recomendaria que eu mudasse de trabalho?

M: Eu não falo faça isso faça aquilo. Faça o que quiser, saiba apenas que você não é o ator, as coisas simplesmente acontecem. O destino que veio à existência no primeiro dia da concepção está desenrolando-se. Não há nenhuma ação que você possa alegar autoria. Uma vez que você sabe quem você é, esse destino não lhe limita mais.

P: O que as pessoas que morrem fazem para perceber que elas não têm corpo?

M: Nada acontece, ninguém morre. Os textos sagrados dizem que aqueles que morrem com conceitos indissolvidos irão renascer.

P: Quando renascem eles têm escolha de corpos diferentes ou de ir para a família A ou B?

M: Por que você se preocupa com assuntos alheios a você assim? Concentre em converser a si mesmo que você não é o corpo. Este corpo é feito dos cinco elementos e é realmente um corpo comida, você não tem parte nisso. Este corpo-comida não se refere a você. A força vital, a respiração e o sentido de ser dependem de comida e água. Sem comida e água o sentido de “eu sou” (I amness) fica ausente.

P: Mas o sentido de “eu sou” retorna posteriormente então?

M: Você não é nenhuma dessas coisas. Não há a questão de renascimento.

P: Parece que algo com o nome de comida está pairando no ar. Você pode constituir um corpo a partir disso e se você tiver conceitos errados você aterriza naquele corpo. Na verdade, me parece que está implícito no ensinamento que não existe tal coisa como a comida e o corpo-comida, eles são apenas um conceito.

M: De que nível você está falando agora? Como você entende que o corpo não está aí, que ele vem da mente?

P: Estou compreendendo isso a partir do que Maharaj diz no livro.

M: Você teve essa realização?

P: Se tivesse realizado teria me tornado um Jnani.

M: Exatamente. Até que isso ocorra o corpo nasce da maneira como todos os corpos nascem.

P: Da maneira que as coisas são para nós agora, temos um conceito de um corpo que deveríamos aceitar e não criar um outro conceito de que não existe o corpo?

M: Vá para a fonte. Quem sabe que existe o corpo? Algo é anterior à criação do corpo.

P: Todos os esforços que fazemos a esse respeito têm algum efeito em destruir o sentido de “eu sou”, ou isso é parte do filme? De modo que os esforços que as pessoas pensam que estão fazendo para alcançar o objetivo não têm efeito, está tudo contido naquele filme?

M: Esteja naquela fonte que é a luz por trás da consciência, entenda ela. O que está acontecendo naquele Mula-Maya.
A fita cassete grava o que estou falando, mas o que quer que esteja na fita não sou eu. Do mesmo modo que a voz original não está na fita também você está separado da química, do corpo, do sentido de eu sou, da consciência.

P: A realização está no filme?

M: Não pode estar no filme porque você é o conhecedor daquele filme. Agora pondere sobre o que você escutou e volte as cinco horas.
Essa mente é apenas um acúmulo de pensamentos que estão presentes na manifestação. Todas as suas atividades dependem da mente e a mente depende de todas as suas memórias e daquilo que você ouviu neste mundo.
Estamos absorvendo aquilo que acontece no mundo e estamos olhando para isso do nosso próprio ponto de vista, colocando nossos próprios conceitos nessas coisas. E por essa consciência corpo-mente absorver tudo o que acontece no mundo, nós vamos dando a essa consciência “eu sou”o crédito de ter outras vidas, nascimento, karma, etc. Você aceita certas coisas como virtuosas e boas e rejeita outras como pecaminosos e más, mas esses são apenas conceitos que você adquiriu no mundo e não há base para distinção.

P: Ontem Maharaj falou sobre os chakras (centro de energia psíquica no corpo) e sobre brahma-randra. Questiono-me se devemos se devemos nos ater a essas coisas em nossa meditação.

M: Esqueça a respeito dos chakras. Atenha-se ao conhecimento “eu sou” e torne-se um com ele, isso é meditação.

P: Quem é que vai segurar-se no “eu sou”?

M: Quem está fazendo essa pergunta?

P: Estamos aptos a ir além de nossos pensamentos, ou no estado absoluto os pensamentos são apenas parte do filme? E se são, temos apenas que ter paciência com eles?

M: Quem quer ir além dos pensamentos? Quem é esse? Antes da consciência aparecer no estado de vigília, esse é o Absoluto, assim que a consciência aparece os pensamentos surgem. Você não tem que ter paciência com eles, nem descartá-los, apenas conheça-os.

P: Todas as outras coisas que determinam quem você chama de Original, elas não existem?

M: Mas isso é apenas quando você atinge o estado original, quando você é um Jnani.

P: Nós já somos isso.

M: Se fossem não haveriam questões e vocês não estariam aqui.

Nisargadatta Maharaj - O orgulho do êxito pessoal



“Trabalhei duramente e agora me considero um homem bem sucedido. Eu seria um hipócrita se não admitisse que me sinto muito satisfeito e, sim, também, um tanto quanto orgulhoso do meu êxito pessoal. O que teria de errado nisso?”

Certa manhã, um visitante estrangeiro dirigiu-se a Sri Nisargadatta Maharaj com estas palavras. Era um homem de quarenta e poucos anos – presunçoso, autoconfiante e um pouco agressivo. A conversa prosseguiu então como se segue:

Maharaj: Antes de considerarmos o que é ‘certo’ e o que é ‘errado’, por favor, quem faz esta pergunta?

Visitante: (Um pouco surpreso) Como? ‘Eu’, certamente.

M: E quem é esse?

V: Eu. Este ‘eu’, quem está sentado em frente de você.

M: E você pensa que você é isso?

V: Você me vê. Eu me vejo. Onde está a dúvida?

M: Você quer dizer este objeto que está diante de mim? Qual é sua mais antiga lembrança desde objeto que pensa ser? Retroceda tanto quanto possa.

V: (Depois de um minuto ou dois) A recordação mais antiga seria talvez estar sendo cuidado e abraçado por minha mãe.

M: Como uma criança pequena, você quer dizer. Diria que o homem bem sucedido de hoje seria a mesma criança desamparada, ou seria um outro alguém?

V: Sem dúvida, é o mesmo.

M: Bem. Agora, se você pensar mais para trás, concordaria que essa criança, da qual lembra, é a mesma que nasceu de sua mãe e que uma vez foi tão desamparada que não se dava conta sequer do que acontecia quando seu corpo realizava suas funções físicas naturais, e só podia chorar ao sentir dor ou fome?

V: Sim, eu era aquela criança.

M: E o que você era antes que a criança adquirisse um corpo e nascesse?

V: Eu não entendo.

M: Você entende. Pense. O que aconteceu no útero de sua mãe? O que se desenvolveu em um corpo com ossos, sangue, medula, músculos, etc., durante um período de nove meses? Não foi um espermatozóide que, combinado com o óvulo no ventre feminino, deu início a uma nova vida e, no processo, passou por numerosos perigos? Não foi aquela infinitesimalmente pequena célula de esperma que, agora, está tão orgulhosa de seus êxitos? Quem pediu por você em particular? Sua mãe? Seu pai? Queriam particularmente você como filho? Você tem algo a ver com o ser nascido desses pais em particular?

V: Estou receoso, nunca havia pensado nisto.

M: Exatamente. Reflita a este respeito. Então, talvez, você terá alguma idéia de sua verdadeira identidade. Depois disto, considere se você poderia possivelmente estar orgulhoso do que você ‘alcançou’.

V: Penso que começo a entender o que você quer dizer.

M: Se você se aprofundar no assunto, compreenderá que a origem de seu corpo – o espermatozóide e o óvulo – é em si mesma a essência do alimento consumido pelos seus pais; que a forma física está composta e se alimenta dos cinco elementos que constituem o alimento; e também que, com muita freqüência, o corpo de uma criatura torna-se o alimento de outra.

V: Mas, certamente, eu, como tal, devo ser alguma coisa distinta deste corpo-alimento.

M: Sem dúvida que você é, mas não alguma ‘coisa’. Descubra o que é aquilo que dá sensibilidade a um ser sensível, aquilo sem o qual você nem mesmo saberia que você existe, sem falar no mundo exterior. E, finalmente, vá mais fundo ainda e examine se esta qualidade de ser, esta própria consciência, não está sujeita ao tempo.

V: Deverei, certamente, penetrar nas várias questões que você levantou, embora deva confessar que nunca explorei estas áreas antes, e me sinto quase tonto em minha ignorância dos novos campos que você abriu diante de mim. Voltarei a vê-lo novamente, senhor.



M: Será sempre bem-vindo.



"Sinais do Absoluto" Pointers from Nisargadatta 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nisargadatta Maharaj - O Ser está além da mente.



Sri Nisargadatta Maharaj - I Am That

Questionador: Quando criança, eu freqüentemente experimentava estados de completa felicidade, chegando ao êxtase. Mais tarde, eles cessaram. Mas desde que vim para a Índia eles reapareceram, principalmente depois que o encontrei. Ainda assim, esses estados, embora maravilhosos, não são duradouros. Eles vão e vêm sem que eu saiba quando voltarão.
Maharaj: Como alguma coisa pode permanecer estável em uma mente, quando ela mesma não é estável?

Q: Como posso tornar minha mente estável?
M. Como pode uma mente instável tornar-se a si mesma estável? É claro que não pode. É natureza da mente ficar vagando. Tudo que se pode fazer é deslocar o foco da consciência para além da mente.

Q: Como se faz isso?
M: Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento "Eu Sou". A mente se rebelará no início, mas com paciência e perseverança, ela irá render-se e ficar quieta. Uma vez quieta, as coisas começarão a acontecer espontânea e naturalmente, sem nenhuma interferência da sua parte.

Q: Posso evitar esta batalha com minha mente?
M: Sim, você pode. Apenas viva sua vida da maneira como ela se apresenta, mas fique alerta, vigilante, permitindo que cada coisa aconteça da maneira que acontecer, fazendo as coisas naturais de um jeito natural, sofrendo, regozijando-se, da forma como as coisas vierem. Esta também é uma maneira.

Q: Bem, então eu posso também me casar, ter filhos, tocar um negócio... ser feliz.
M: Certamente. Você pode ser feliz ou não, a escolha é sua.

Q: Bem, eu quero a felicidade.
M: A verdadeira felicidade não pode ser encontrada em coisas que mudam e se vão. Prazer e dor se alternam inexoravelmente. A felicidade vem do self e pode ser encontrada somente nele. Encontre o seu self real (swarupa) e tudo mais virá com ele.

Q: Se o meu verdadeiro self é paz e amor, por que ele é tão inquieto, tão agitado?
M: Não é seu ser real que é agitado, mas seu reflexo na mente é que parece agitado, pois a mente é agitada. É como o reflexo da lua na água movimentada pelo vento. O vento do desejo agita a mente e o "eu", que nada mais é do que o reflexo do Self na mente, parece mutável. Mas essas idéias de movimento, inquietação, prazer e dor estão todas na mente. O Self está além da mente, consciente, mas sem envolvimento.

Q: Como alcançá-lo?
M: Você é o Self, aqui e agora. Deixe a mente em paz, fique consciente, não se envolva e você irá perceber que permanecer alerta mas desprendido, assistindo os acontecimentos indo e vindo, é um aspecto da sua natureza real.

Q: Quais são os outros aspectos?
M: Os aspectos são em número infinito. Conheça um e você conhecerá todos.

Q: Diga alguma coisa que possa me ajudar.
M: Você é quem sabe melhor o que você necessita!

Q: Eu não tenho descanso. Como posso obter paz?
M: Para que você quer paz?

Q: Para ser feliz.
M: Você não é feliz?

Q: Não, eu não sou.
M: O que o torna infeliz?

Q: Eu tenho o que não quero, e quero o que não tenho.
M: Por que você não inverte a situação: queira o que você tem e não se importe com o que não tem?

Q: Eu quero o que é prazeroso e não quero o que é doloroso.
M: Como você sabe o que é prazeroso ou não?

Q: Em função da experiência passada, é claro.
M: Guiado pela memória você tem perseguido o prazeroso e fugido do não prazeroso. Você tem obtido sucesso?

Q: Não, não tenho. O prazeroso não dura. A dor instala-se novamente.
M: Que dor?

Q: O desejo pelo prazer, o medo da dor, ambos são estados de angústia. Existe um estado de prazer puro?
M. Cada prazer, físico ou mental, necessita de um instrumento. Tanto os instrumentos físicos como mentais são materiais, eles cansam e tornam-se batidos. O prazer que eles proporcionam é necessariamente limitado em intensidade e duração. A dor é o pano de fundo de todos os seus prazeres. Você os quer porque você sofre. Por outro lado, a busca pelo prazer é a causa da dor. É um círculo vicioso.

Q: Eu posso ver o mecanismo da minha confusão, mas não vejo a forma de sair dele.
M: O exame detalhado do mecanismo mostra o caminho. Afinal, sua confusão está só na sua mente, que nunca lutou muito contra a confusão e nunca se agarrou tanto a ela. Sua mente se rebela apenas contra a dor.

Q: Então, tudo o que tenho a fazer é permanecer confuso?
M: Fique alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo que puder sobre a confusão, como ela opera, o que ela faz a você e aos outros. Ao esclarecer a confusão você se livrará dela.

Q: Quando olho para dentro de mim, percebo que meu desejo mais forte é criar um monumento, construir alguma coisa que possa durar mais do que eu. Mesmo quando eu penso em um lar, esposa e filhos, é porque eles são uma testemunha duradoura e sólida de mim mesmo.
M: Certo, construa um monumento para você. Como você pensa fazer isso?

Q: Importa pouco o que eu construo, desde que seja permanente.
M: Certamente, você vê por si mesmo que nada é permanente. Tudo se desgasta, quebra, dissolve. O próprio chão onde você constrói também desaparecerá. O que você pode construir que dure mais que tudo?

Q: Intelectualmente, verbalmente, estou consciente de que tudo é transitório. Ainda assim, de alguma forma meu coração deseja permanência. Quero criar algo que dure.
M: Então você precisa construir isso com alguma coisa duradoura. O que você tem que é duradouro? Nem seu corpo, nem sua mente duram. Você precisa procurar em outro lugar.

Q: Eu anseio pela permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.
M: Você, você mesmo não é permanente?

Q: Eu nasci e meu destino é morrer.
M: Você pode verdadeiramente dizer que você não era antes de nascer e você pode possivelmente dizer quando estiver morto: "Agora eu não sou mais"? Você não pode dizer, pela sua própria experiência, que você não é. Você só pode dizer "Eu sou". Os outros também não podem dizer-lhe "você não é".

Q: Não há "Eu sou" no sono.
M: Antes de fazer tais afirmações examine cuidadosamente seu estado de vigília. Você logo descobrirá que ele está cheio de falhas, quando a mente fica em branco. Perceba como você se recorda pouco mesmo quando totalmente acordado. Você não pode dizer que você não estava consciente durante o sono. Você apenas não se lembra. Uma falha na memória não é necessariamente uma falha na consciência.

Q: Posso lembrar, por mim mesmo, meu estado de sono profundo?
M: É claro! Eliminando os intervalos durante suas horas de vigília você gradualmente eliminará os longos intervalos de ausência da mente, que você chama de sono. Você ficará consciente de que está dormindo.

Q: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, ainda continua sem solução.
M: A permanência é mera idéia, nascida da ação do tempo. O tempo, por sua vez, depende da memória. Por permanência você entende uma memória que não falha através de um tempo que seja contínuo. Você quer eternizar a mente, o que não é possível.

Q: Então o que é eterno?
M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar uma coisa transitória - somente o imutável é eterno.

Q: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não desejo mais conhecimento. Tudo que eu quero é paz.
M: Você pode obter toda paz que você quer apenas pedindo.

Q: Eu estou pedindo.
M: Você deve pedir com um coração não dividido e viver uma vida integrada.

Q: Como?
M: Desprenda-se de tudo que não deixa sua mente descansar. Renuncie a tudo que perturba sua paz. Se você quer paz, mereça-a.

Q: Certamente todos merecem paz.
M: Somente a merecem aqueles que não a perturbam.

Q: De que forma eu perturbo a paz?
M: Sendo um escravo de seus desejos e medos.

Q: Mesmo quando eles são justificáveis?
M: Reações emocionais, nascidas da ignorância e da inadvertência, nunca se justificam. Procure uma mente clara e um coração limpo. Tudo que você precisa é manter-se bem alerta, investigando a verdadeira natureza de você mesmo. Este é o único caminho para a paz.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

OSHO - EMOÇÕES



O que é o ciúme e inveja e porque isso magoa tanto? 

Ciúme e inveja são comparação. E fomos ensinados a comparar, fomos condicionados a comparar, comparar sempre. Alguém possui uma casa melhor, alguém tem um corpo mais bonito, alguém tem mais dinheiro, alguém possui uma personalidade mais carismática. Compare, continue comparando a si mesmo com todo mundo que você encontrar e o resultado será um grande ciúme, uma grande inveja; esse é o sub produto do condicionamento da comparação.

De outra maneira, se você deixa de comparar, o ciúme ou a inveja desaparece. Assim você simplesmente sabe que você é você e ninguém mais, e que não há nenhuma necessidade de ser outro alguém. É bom que você não se compare com as árvores, senão você começaria a se sentir muito ciumento, muito invejoso: porque você não é verde? E porque a vida tem sido tão dura com você – e nenhuma flor? É melhor você não se comparar com os pássaros, com os rios, com as montanhas; do contrário você irá sofrer. Você só se compara com os seres humanos, porque você foi condicionado a só se comparar com os seres humanos; você não se compara com os pavões e com os papagaios. Senão seu ciúme seria bem maior; você estaria tão sobrecarregado de ciúmes que você não seria capaz de viver de maneira nenhuma.

A comparação é uma atitude muito tola, porque cada pessoa é única e incomparável. Uma vez que esse entendimento se estabelece em você, o ciúme, a inveja desaparece. Cada um é único e incomparável. Você é apenas você mesmo: ninguém nunca foi como você e ninguém nunca será como você. E você também não precisa ser nenhum outro.

A EXISTÊNCIA TRAZ PARA A CRIAÇÃO SOMENTE ORIGINAIS; ELA NÃO ACREDITA EM CÓPIAS CARBONO.

Um grupo de galinhas estava no quintal quando uma bola de futebol passou por sobre a cerca e caiu no meio delas. Um galo chegou gingando, estudou-a e então disse, “Não estou reclamando garotas, mas vejam o trabalho que eles estão fazendo no vizinho ao lado”.

Na porta do vizinho grandes coisas estão acontecendo: a grama é mais verde, as rosas são mais rosadas. Todo mundo parece estar tão feliz – exceto você. Você está continuamente comparando. E a mesma coisa está acontecendo com os outros, eles também estão comparando. Talvez eles também achem que seu gramado é mais verde – sempre parece mais verde à distância – que você tem uma esposa mais bonita... Você está cansado, você não pode acreditar como você permitiu se envolver com essa mulher, você não sabe como se livrar dela – e o vizinho pode estar com ciúmes de você, que você tem uma mulher tão bonita! E você pode estar com ciúmes dele...

Todo mundo tem ciúmes, tem inveja de todo mundo. E com a inveja o ciúmes criamos um inferno e com a inveja e ciúmes nos tornamos muito medíocres.

Um velho fazendeiro estava mal-humorado avaliando os estragos da inundação. “Hiram!” Gritou o vizinho, “seus porcos foram todos levados pela correnteza”.
“E quanto aos porcos do Thompsom?” Perguntou o fazendeiro.
“Eles também foram levados”.
“E os de Larsen?”
“Também”.
“Hum!” Exclamou o fazendeiro, comemorando. “Não foi tão ruim como eu pensava”.

Se todos estão na miséria, isso parece bom; se todos estão perdendo, isso parece bom. Se todos estão felizes e bem sucedidos, isso tem um sabor muito amargo.

Mas por que antes de tudo a ideia do outro entra na sua cabeça? Deixe-me lembrá-lo novamente: porque você não permitiu sua própria seiva fluir; você não permitiu sua própria felicidade brotar, você não permitiu seu próprio ser florescer. Daí você se sentir vazio no íntimo, então você olha para o exterior de cada um e de todo mundo porque isso é só o que você pode ver.

Você conhece seu íntimo e você conhece o exterior dos outros: isso gera ciúmes, isso gera inveja. Eles conhecem seu exterior e eles conhecem o interior deles: isso gera ciúmes, gera inveja. Ninguém mais conhece seu íntimo. Lá você sabe que você não é nada, não vale nada. E os outros parecem tão sorridentes exteriormente. O sorriso deles pode ser falso, mas como você pode saber que são falsos? Talvez seus corações sejam também sorridentes. Você sabe que seu sorriso é falso porque seu coração não está sorrindo de maneira alguma, ele pode estar lamentando e chorando.

Você conhece sua interioridade, e só você a conhece, ninguém mais. E você conhece o exterior de todos, e as pessoas fizeram o exterior delas parecer bonito. Exteriores são vitrines e são muito enganadoras.

Há uma antiga história Sufi:
Um homem estava muito oprimido pelo seu sofrimento. Ele costumava orar diariamente, “Porque eu? Todos parecem ser tão felizes, porque só eu estou sofrendo tanto?” Um dia, em grande desespero, ele orou, “Você pode me dar o sofrimento de qualquer um outro e estou pronto para aceitar isso. Mas leve o meu, não posso mais suportá-lo”.

Aquela noite ele teve um belo sonho, belo e muito revelador. Ele sonhou naquela noite que Deus aparecia no céu e dizia para todos, “Tragam todos os seus sofrimentos para o templo”. Todos estavam cansados de sofrer – na verdade todos tinham orado alguma vez ou outra, “Estou pronto para aceitar o sofrimento de qualquer um outro, porém leve o meu sofrimento, é demais, é insuportável”.

Assim todo mundo colocou seu próprio sofrimento em sacolas e levaram para o templo e todos pareciam muito felizes; o dia havia chegado, suas preces foram ouvidas. E esse homem também correu para o templo.

E então Deus falou, “Coloquem suas sacolas na parede”. Todos as sacolas foram colocadas na parede e então Deus declarou: “Agora vocês podem escolher. Podem pegar qualquer sacola”.

E a coisa mais surpreendente foi: que esse homem que tinha estado sempre orando, correu em direção a sua sacola antes que alguém mais pudesse escolhê-la! Ele contudo, ficou surpreso porque todo mundo correu para sua própria sacola e todos estavam contentes com a escolha. O que aconteceu? Pela primeira vez, todos viram a miséria dos outros, o sofrimento dos outros – as sacolas deles eram tão grandes, ou até mesmo maiores!

E o segundo problema era, as pessoas tinham se acostumado com os seus próprios sofrimentos. E agora escolher o sofrimento de outra pessoa – quem sabe que tipo de sofrimento estará dentro da sacola? Pra que se incomodar? Pelo menos você está familiarizado com o seu próprio sofrimento e você já está acostumado com ele, e ele é suportável. Por tantos anos você o tolerou – porque escolher o desconhecido?

E todos foram para casa felizes. Nada havia mudado, eles estavam trazendo o mesmo sofrimento de volta, mas todos estavam felizes e sorridentes e alegres porque conseguiram suas próprias sacolas de volta.

Pela manhã ele orou e disse, “Grato pelo sonho; nunca mais pedirei novamente. Tudo que você me tem dado é bom para mim, tem que ser bom para mim; eis porque você me deu isso”.

Devido ao ciúme você está em constante sofrimento; você torna-se medíocre para os outros. E por causa do ciúme você começa a ficar falso, porque você começa a fingir. Você começa a fingir coisas que você não possui, você começa a fingir coisas as quais você não pode ter, que não são naturais a você. Você se torna cada vez mais artificial. Imitando os outros, competindo com os outros, que mais você pode fazer? Se alguém tem alguma coisa e você não tem, e você não tem a possibilidade natural de ter isso, o único jeito é arranjar algum substituto barato para isso.

Eu soube que Jim e Nancy Smith divertiram-se muito na Europa nesse verão. É tão legal quando um casal finalmente tem a oportunidade de realmente viver bem. Eles estiveram por toda parte e fizeram de tudo. Paris, Roma... Você diz o nome, eles estiveram lá e viram tudo.

Porém foi tão embaraçante voltar para casa e passar pela alfândega. Vocês sabem como a os oficiais da alfândega espionam todos os seus pertences. Eles abriram uma sacola e tiraram três perucas, cuecas de seda, perfume, tintura para os cabelos... Realmente embaraçante. E era apenas a sacola de Jim!

Basta olhar para dentro de sua mala e você irá encontrar tantas coisas artificiais, falsas, coisas fictícias – pra que? Porque você não pode ser natural e espontâneo? – devido aos ciúmes, á inveja.

O homem ciumento, invejoso vive no inferno. Pare de comparar e os ciúmes desaparecem, a mediocridade desaparece, a falsidade desaparece. Mas você só pode deixá-los se seus tesouros íntimos começarem a crescer; não existe outra maneira.

Cresça, torne-se um individuo mais e mais autêntico. Ame e respeite a si mesmo do jeito que a existência lhe fez e então, imediatamente, as portas do paraíso se abrem para você. Elas sempre estiveram abertas, você simplesmente nunca deu atenção a elas.

Osho, Extraído de: The Book of Wisdom, Chapter 27 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Como alcançar a Realização do Eu Superior, segundo Sri Ramana Maharshi


"Todos deveremos retornar à nossa fonte. Cada ser humano está em busca de sua fonte e algum dia a encontrará. Nós viemos do Interior, nos exteriorizamos e, agora, temos de nos interiorizar outra vez. O que é meditação? É nosso Ser natural. Nos recobrimos com pensamentos e paixões, e para descartá-los devemos nos concentrar em um único pensamento: o Ser.

O Ser é como um poderoso imã oculto dentro de nós. Nos dirige gradualmente para Si, embora imaginemos estar indo para Ele de nossa própria vontade. Quando já nos aproximamos o suficiente, Ele coloca um fim a qualquer outra de nossas atividades, nos torna silenciosos e assim engole nossa própria corrente pessoal, matando dessa forma nossa personalidade. Isto sobrepuja o intelecto e inunda todo o ser. Pensamos que estamos meditando n’Ele e nos aproximando d’Ele, enquanto que a verdade é que somos como filigranas de ferro e é o imã do Atman que nos atrai para Si. Assim, o processo de realizar o Ser é uma forma de divino magnetismo.
Pergunta: 'Como atingir a realização do Eu Superior?'
A realização não é algo que se obtém, já está aqui. Basta libertar-se do pensamento “Não realizei!” A quietude, ou paz, é a realização. Não há um só momento em que o Eu Superior não exista. Enquanto persistirem dúvidas ou o sentimento de não-realização, deve-se buscar a libertação destes pensamentos, os quais se originam na identificação do Eu Superior com o ego. Ao desaparecer o ego, apenas o Eu Superior permanece. Para que se aumente o espaço em um recinto, basta retirar o que está obstruindo o espaço. O espaço não é trazido de nenhum outro lugar.

O problema é que você ignora seu estado de plenitude. Este desconhecimento lança um véu sobre o puro Eu Superior, que é beatitude. Este conhecimento errado é a falsa identificação do Ser com o corpo, mente, etc. Essa falsa identificação precisa desaparecer, restando, assim, apenas o Eu Superior. Por isso afirmo que o Eu Superior não é alcançável. Você é o Eu Superior, você já é isso!
Você perdeu a visão desta Beatitude porque sua atitude meditativa não se tornou natural e também devido a recorrência das tendências latentes da mente (vasanas). Quando se tornar habitualmente reflexivo, desfrutar do estado de plenitude espiritual haverá de ser algo da experiência natural. Não é pela simples compreensão “eu não sou o corpo” que a meta do Atman será alcançada. Será que nos tornamos “soberanos” por vermos ao rei apenas uma vez? Se você mantiver o pensamento no Ser e intensamente aspirar por Ele, então até mesmo aquele único pensamento usado para focalizar a concentração desaparecerá, e você verá simplesmente que É, ou seja, o verdadeiro Ser, sem 'eu' ou ego." 

Do livro  "Ensinamentos Espirituais de Sri Ramana Maharshi", edt. Cultrix, SP

Papaji - Mergulhe na Eternidade

Questionador - Papaji, o que é liberação?

Papaji - Liberação é conhecer sua própria e fundamental natureza, seu próprio Ser. Nada mais! Liberação é a coisa mais fácil de se obter. Você não precisa nem pensar..!

Q - E, o que é este 'Ser'?

Papaji - Isso é indescritível. Não é intelectual e nem mesmo transcendental. Pense naquele único sem nem mesmo o conceito de segundo. Então, descarte também este conceito de Um!

Q - Papaji, você com frequência fala de 'entrega'...mas, entregar-se a quê?

Papaji - Àquela Fonte através da qual você fala, através da qual vê, respira, experimenta e toca, através da qual a Terra gira e o Sol brilha, e pela qual você pode fazer esta pergunta. Tudo acontece por meio desta Consciência, na qual, mesmo o 'vazio' está alocado. A este Supremo Poder que se encontra além do além - seu próprio Ser - a ele você deve se entregar.

Q - Esta Consciência, a qual você se refere, é eterna, sem nascimento e sem morte?

Papaji - A Consciência está além de conceitos de nascer ou morrer, até mesmo além dos conceitos de eternidade ou de vazio ou de espaço. Aquilo em que se acham acomodados o espaço, o vazio e a eternidade é chamado de Consciência, em cujo interior tudo tem existência.

Q - Mas, Papaji, ainda assim nascimento e morte continuam aparentes!

Papaji - Sim, criação e destruição acontecem sem cessar. Todas estas manifestações são como borbulhas e ondulações sobre o oceano. Deixe que prossigam...o oceano não as vê como separadas. As borbulhas, as ondulações e as grandes ondas - podem parecer a si mesmas como separadas, mas o oceano não é perturbado com isso... Deixe que se movimentem sobre ele, que tenham diferentes formas e diferentes nomes, deixe que surjam e que desapareçam. Você é aquilo que brilha através de todas as modificações. 
A Consciência permanece inalterada...!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Mooji - O estado de percepção pura



"O estado de percepção pura que você é não é afetado pela atividade da mente ou do corpo. Olhos fechados ou abertos não são problema à pura percepção. Companhia espiritual não eleva este estado, do mesmo modo que companhia mundana não o diminui. A percepção pura não é um sentimento, estando assim além de bons e maus sentimentos. Também não é pessoal nem impessoal, nem ordinária nem extraordinária. Este 'estado' não possui localização, faz pouca diferença se estiver você em Arunachala ou em qualquer lugar do planeta. A percepção pura não se encontra ao final de algum grande esforço ou prática. Não pode ser dividido por tempo e espaço, e seu senso intuitivo 'EU' não se acha separado dele.
Você se une a esta percepção pura quando sua identidade se manifesta sem uma estória pessoal ou alguma força psicológica. Você é um com este estado quando ao pronunciar 'EU' estiver se referindo aquele sentido intuitivo que é sinônimo da própria Existência. Sendo esta sua posição, você não é mais aquele 'EU' que fala, que ouve, que duvida ou que crê. Nenhuma religião lhe pertence. Os papéis que possa representar são preenchidos espontaneamente e naturalmente, e você não estará mais investido neles como estava antes. Não é mais nem pai nem mãe de alguém. Nenhum julgamento tem mais significado, bem e mal são apenas conceitos para você. Cada sensação, cada sentimento, cada jogo da mente será apenas uma ondulação à superfície do oceano da vida. Quanto ainda levará para que você realize esta Verdade?"

Fonte: "Breath of the Absolute, dialogues with Mooji"

Mooji - Você determina se algo acontece ou não.



"Este é seu poder! Você determina se algo acontece ou não. A menos que a mente diga 'algo está acontecendo', efetivamente ou de modo experimental, nada aconteceu! Se não ficou registrado na consciência (através da atenção), efetivamente, nada aconteceu. Assim, se algo aconteceu ou não, é você quem decide! E é também você a determinar se vai designar um acontecimento ou não. Não lhe será imposto. Este é seu poder: você desconsidera, aquilo não aconteceu! Mas, se seu interesse está em alguma coisa, subitamente... acontece. Qual é o remédio para todas estas coisas? Permaneça apenas como o observador. Mantenha a atenção em neutralidade. De início, parece que vai requerer algum esforço. Porém, com um pouco de resolução de sua parte, torna-se simples. Você tem alguns poderes: primeiro, o poder da atenção, pois, onde quer que a atenção toque, isso é registrado como experiência. Segundo, sua crença! Qualquer coisa pode aparecer em sua consciência, mas, se você não acredita nela, se não se identifica com ela, não tem nenhum poder! Um pensamento, sem crédito, não tem poder! Nem tudo que surge (na mente) precisa ser aceito, precisa ser procurado. Você pode ignorar! Esta é a grande Mestria dos Sábios. Eles começaram a ignorar! Não que tenham desenvolvido alguma técnica, mas simplesmente por reconhecer 'Eu Sou a Realidade!', 'Eu Sou a Consciência!', tudo mais não passa de turismo! Todo pensamento, toda emoção é apenas um turista, sim, e eu mesmo não sou um hotel para estes pensamentos, que eles venham e logo partam!
A experiência deve acompanhar sua resposta, o que pode criar modificações ou algum impacto em você? Tudo está acontecendo por si mesmo e em sua presença - quem é você? Chamo isso de estar estabelecido em seu próprio Ser!" 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O SER está Além da Mente - Sri Nisargadatta Maharaj - I Am That


Questionador: Quando criança, eu freqüentemente experimentava
estados de completa felicidade, chegando ao êxtase. Mais tarde, eles cessaram.
Mas desde que vim para a Índia eles reapareceram, principalmente depois que o
encontrei. Ainda assim, esses estados, embora maravilhosos, não são duradouros.
Eles vão e vêm sem que eu saiba quando voltarão.

Maharaj: Como alguma coisa pode permanecer estável em uma mente,
quando ela mesma não é estável?

Q: Como posso tornar minha mente estável?

M: Como pode uma mente instável tornar-se a si mesma estável? É claro
que não pode. É natureza da mente ficar vagando. Tudo que se pode fazer é
deslocar o foco da consciência para além da mente.

Q: Como se faz isso?

M: Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento "Eu Sou". A
mente se rebelará no início, mas com paciência e perseverança, ela irá render-se
e ficar quieta. Uma vez quieta, as coisas começarão a acontecer espontânea e
naturalmente, sem nenhuma interferência da sua parte.

Q: Posso evitar esta batalha com minha mente?

M: Sim, você pode. Apenas viva sua vida da maneira como ela se
apresenta, mas fique alerta, vigilante, permitindo que cada coisa aconteça da
maneira que acontecer, fazendo as coisas naturais de um jeito natural, sofrendo,
regozijando-se, da forma como as coisas vierem. Esta também é uma maneira.

Q: Bem, então eu posso também me casar, ter filhos, tocar um negócio...
ser feliz.

M: Certamente. Você pode ser feliz ou não, a escolha é sua.

Q: Bem, eu quero a felicidade.

M: A verdadeira felicidade não pode ser encontrada em coisas que
mudam e se vão. Prazer e dor se alternam inexoravelmente. A felicidade vem do
self e pode ser encontrada somente nele. Encontre o seu Ser real (swarupa) e
tudo mais virá com ele.

Q: Se o meu verdadeiro self é paz e amor, por que ele é tão inquieto, tão
agitado?

M: Não é seu ser real que é agitado, mas seu reflexo na mente é que
parece agitado, pois a mente é agitada. É como o reflexo da lua na água
movimentada pelo vento. O vento do desejo agita a mente e o "eu", que nada
mais é do que o reflexo do Self na mente, parece mutável. Mas essas idéias de
movimento, inquietação, prazer e dor estão todas na mente. O Self está além da
mente, consciente, mas sem envolvimento.

Q: Como alcançá-lo?

M: Você é o Self, aqui e agora. Deixe a mente em paz, fique consciente,
não se envolva e você irá perceber que permanecer alerta mas desprendido,
assistindo os acontecimentos indo e vindo, é um aspecto da sua natureza real.

Q: Quais são os outros aspectos?


M: Os aspectos são em número infinito. Conheça um e você conhecerá
todos.

Q: Diga alguma coisa que possa me ajudar.

M: Você é quem sabe melhor o que você necessita!

Q: Eu não tenho descanso. Como posso obter paz?

M: Para que você quer paz?

Q: Para ser feliz.

M: Você não é feliz?

Q: Não, eu não sou.

M: O que o torna infeliz?

Q: Eu tenho o que não quero, e quero o que não tenho.

M: Por que você não inverte a situação: queira o que você tem e não se
importe com o que não tem?

Q: Eu quero o que é prazeroso e não quero o que é doloroso.

M: Como você sabe o que é prazeroso ou não?

Q: Em função da experiência passada, é claro.

M: Guiado pela memória você tem perseguido o prazeroso e fugido do
não prazeroso. Você tem obtido sucesso?

Q: Não, não tenho. O prazeroso não dura. A dor instala-se novamente.

M: Que dor?

Q: O desejo pelo prazer, o medo da dor, ambos são estados de angústia.
Existe um estado de prazer puro?

M: Cada prazer, físico ou mental, necessita de um instrumento. Tanto os
instrumentos físicos como mentais são materiais, eles cansam e tornam-se
batidos. O prazer que eles proporcionam é necessariamente limitado em
intensidade e duração. A dor é o pano de fundo de todos os seus prazeres. Você
os quer porque você sofre. Por outro lado, a busca pelo prazer é a causa da dor. É
um círculo vicioso.

Q: Eu posso ver o mecanismo da minha confusão, mas não vejo a forma
de sair dele.

M: O exame detalhado do mecanismo mostra o caminho. Afinal, sua
confusão está só na sua mente, que nunca lutou muito contra a confusão e nunca
se agarrou tanto a ela. Sua mente se rebela apenas contra a dor.

Q: Então, tudo o que tenho a fazer é permanecer confuso?

M: Fique alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo que puder
sobre a confusão, como ela opera, o que ela faz a você e aos outros. Ao
esclarecer a confusão você se livrará dela.

Q: Quando olho para dentro de mim, percebo que meu desejo mais forte é
criar um monumento, construir alguma coisa que possa durar mais do que eu.
Mesmo quando eu penso em um lar, esposa e filhos, é porque eles são uma
testemunha duradoura e sólida de mim mesmo.

M: Certo, construa um monumento para você. Como você pensa fazer
isso?

Q: Importa pouco o que eu construo, desde que seja permanente.

M: Certamente, você vê por si mesmo que nada é permanente. Tudo se
desgasta, quebra, dissolve. O próprio chão onde você constrói também
desaparecerá. O que você pode construir que dure mais que tudo?

Q: Intelectualmente, verbalmente, estou consciente de que tudo é
transitório. Ainda assim, de alguma forma meu coração deseja permanência.
Quero criar algo que dure.

M: Então você precisa construir isso com alguma coisa duradoura. O que
você tem que é duradouro? Nem seu corpo, nem sua mente duram. Você precisa
procurar em outro lugar.

Q: Eu anseio pela permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.

M: Você, você mesmo não é permanente?

Q: Eu nasci e meu destino é morrer.

M: Você pode verdadeiramente dizer que você não era antes de nascer e
você pode possivelmente dizer quando estiver morto: "Agora eu não sou mais"?
Você não pode dizer, pela sua própria experiência, que você não é. Você só pode
dizer "Eu sou". Os outros também não podem dizer-lhe "você não é".

Q: Não há "Eu sou" no sono.

M: Antes de fazer tais afirmações examine cuidadosamente seu estado de
vigília. Você logo descobrirá que ele está cheio de falhas, quando a mente fica
em branco. Perceba como você se recorda pouco mesmo quando totalmente
acordado. Você não pode dizer que você não estava consciente durante o sono.
Você apenas não se lembra. Uma falha na memória não é necessariamente uma
falha na consciência.

Q: Posso lembrar, por mim mesmo, meu estado de sono profundo?

M: É claro! Eliminando os intervalos durante suas horas de vigília você
gradualmente eliminará os longos intervalos de ausência da mente, que você
chama de sono. Você ficará consciente de que está dormindo.

Q: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, ainda
continua sem solução.

M: A permanência é mera idéia, nascida da ação do tempo. O tempo, por
sua vez, depende da memória. Por permanência você entende uma memória que
não falha através de um tempo que seja contínuo. Você quer eternizar a mente, o
que não é possível.

Q: Então o que é eterno?

M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar uma
coisa transitória - somente o imutável é eterno.

Q: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não desejo
mais conhecimento. Tudo que eu quero é paz.

M: Você pode obter toda paz que você quer apenas pedindo.

Q: Eu estou pedindo.

M: Você deve pedir com um coração não dividido e viver uma vida
integrada.

Q: Como?

M: Desprenda-se de tudo que não deixa sua mente descansar. Renuncie a
tudo que perturba sua paz. Se você quer paz, mereça-a.

Q: Certamente todos merecem paz.

M: Somente a merecem aqueles que não a perturbam.

Q: De que forma eu perturbo a paz?

M: Sendo um escravo de seus desejos e medos.

Q: Mesmo quando eles são justificáveis?

M: Reações emocionais, nascidas da ignorância e da inadvertência, nunca
se justificam. Procure uma mente clara e um coração limpo. Tudo que você
precisa é manter-se bem alerta, investigando a verdadeira natureza de você
mesmo. Este é o único caminho para a paz.