terça-feira, 22 de outubro de 2013

O SER está Além da Mente - Sri Nisargadatta Maharaj - I Am That


Questionador: Quando criança, eu freqüentemente experimentava
estados de completa felicidade, chegando ao êxtase. Mais tarde, eles cessaram.
Mas desde que vim para a Índia eles reapareceram, principalmente depois que o
encontrei. Ainda assim, esses estados, embora maravilhosos, não são duradouros.
Eles vão e vêm sem que eu saiba quando voltarão.

Maharaj: Como alguma coisa pode permanecer estável em uma mente,
quando ela mesma não é estável?

Q: Como posso tornar minha mente estável?

M: Como pode uma mente instável tornar-se a si mesma estável? É claro
que não pode. É natureza da mente ficar vagando. Tudo que se pode fazer é
deslocar o foco da consciência para além da mente.

Q: Como se faz isso?

M: Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento "Eu Sou". A
mente se rebelará no início, mas com paciência e perseverança, ela irá render-se
e ficar quieta. Uma vez quieta, as coisas começarão a acontecer espontânea e
naturalmente, sem nenhuma interferência da sua parte.

Q: Posso evitar esta batalha com minha mente?

M: Sim, você pode. Apenas viva sua vida da maneira como ela se
apresenta, mas fique alerta, vigilante, permitindo que cada coisa aconteça da
maneira que acontecer, fazendo as coisas naturais de um jeito natural, sofrendo,
regozijando-se, da forma como as coisas vierem. Esta também é uma maneira.

Q: Bem, então eu posso também me casar, ter filhos, tocar um negócio...
ser feliz.

M: Certamente. Você pode ser feliz ou não, a escolha é sua.

Q: Bem, eu quero a felicidade.

M: A verdadeira felicidade não pode ser encontrada em coisas que
mudam e se vão. Prazer e dor se alternam inexoravelmente. A felicidade vem do
self e pode ser encontrada somente nele. Encontre o seu Ser real (swarupa) e
tudo mais virá com ele.

Q: Se o meu verdadeiro self é paz e amor, por que ele é tão inquieto, tão
agitado?

M: Não é seu ser real que é agitado, mas seu reflexo na mente é que
parece agitado, pois a mente é agitada. É como o reflexo da lua na água
movimentada pelo vento. O vento do desejo agita a mente e o "eu", que nada
mais é do que o reflexo do Self na mente, parece mutável. Mas essas idéias de
movimento, inquietação, prazer e dor estão todas na mente. O Self está além da
mente, consciente, mas sem envolvimento.

Q: Como alcançá-lo?

M: Você é o Self, aqui e agora. Deixe a mente em paz, fique consciente,
não se envolva e você irá perceber que permanecer alerta mas desprendido,
assistindo os acontecimentos indo e vindo, é um aspecto da sua natureza real.

Q: Quais são os outros aspectos?


M: Os aspectos são em número infinito. Conheça um e você conhecerá
todos.

Q: Diga alguma coisa que possa me ajudar.

M: Você é quem sabe melhor o que você necessita!

Q: Eu não tenho descanso. Como posso obter paz?

M: Para que você quer paz?

Q: Para ser feliz.

M: Você não é feliz?

Q: Não, eu não sou.

M: O que o torna infeliz?

Q: Eu tenho o que não quero, e quero o que não tenho.

M: Por que você não inverte a situação: queira o que você tem e não se
importe com o que não tem?

Q: Eu quero o que é prazeroso e não quero o que é doloroso.

M: Como você sabe o que é prazeroso ou não?

Q: Em função da experiência passada, é claro.

M: Guiado pela memória você tem perseguido o prazeroso e fugido do
não prazeroso. Você tem obtido sucesso?

Q: Não, não tenho. O prazeroso não dura. A dor instala-se novamente.

M: Que dor?

Q: O desejo pelo prazer, o medo da dor, ambos são estados de angústia.
Existe um estado de prazer puro?

M: Cada prazer, físico ou mental, necessita de um instrumento. Tanto os
instrumentos físicos como mentais são materiais, eles cansam e tornam-se
batidos. O prazer que eles proporcionam é necessariamente limitado em
intensidade e duração. A dor é o pano de fundo de todos os seus prazeres. Você
os quer porque você sofre. Por outro lado, a busca pelo prazer é a causa da dor. É
um círculo vicioso.

Q: Eu posso ver o mecanismo da minha confusão, mas não vejo a forma
de sair dele.

M: O exame detalhado do mecanismo mostra o caminho. Afinal, sua
confusão está só na sua mente, que nunca lutou muito contra a confusão e nunca
se agarrou tanto a ela. Sua mente se rebela apenas contra a dor.

Q: Então, tudo o que tenho a fazer é permanecer confuso?

M: Fique alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo que puder
sobre a confusão, como ela opera, o que ela faz a você e aos outros. Ao
esclarecer a confusão você se livrará dela.

Q: Quando olho para dentro de mim, percebo que meu desejo mais forte é
criar um monumento, construir alguma coisa que possa durar mais do que eu.
Mesmo quando eu penso em um lar, esposa e filhos, é porque eles são uma
testemunha duradoura e sólida de mim mesmo.

M: Certo, construa um monumento para você. Como você pensa fazer
isso?

Q: Importa pouco o que eu construo, desde que seja permanente.

M: Certamente, você vê por si mesmo que nada é permanente. Tudo se
desgasta, quebra, dissolve. O próprio chão onde você constrói também
desaparecerá. O que você pode construir que dure mais que tudo?

Q: Intelectualmente, verbalmente, estou consciente de que tudo é
transitório. Ainda assim, de alguma forma meu coração deseja permanência.
Quero criar algo que dure.

M: Então você precisa construir isso com alguma coisa duradoura. O que
você tem que é duradouro? Nem seu corpo, nem sua mente duram. Você precisa
procurar em outro lugar.

Q: Eu anseio pela permanência, mas não a encontro em nenhum lugar.

M: Você, você mesmo não é permanente?

Q: Eu nasci e meu destino é morrer.

M: Você pode verdadeiramente dizer que você não era antes de nascer e
você pode possivelmente dizer quando estiver morto: "Agora eu não sou mais"?
Você não pode dizer, pela sua própria experiência, que você não é. Você só pode
dizer "Eu sou". Os outros também não podem dizer-lhe "você não é".

Q: Não há "Eu sou" no sono.

M: Antes de fazer tais afirmações examine cuidadosamente seu estado de
vigília. Você logo descobrirá que ele está cheio de falhas, quando a mente fica
em branco. Perceba como você se recorda pouco mesmo quando totalmente
acordado. Você não pode dizer que você não estava consciente durante o sono.
Você apenas não se lembra. Uma falha na memória não é necessariamente uma
falha na consciência.

Q: Posso lembrar, por mim mesmo, meu estado de sono profundo?

M: É claro! Eliminando os intervalos durante suas horas de vigília você
gradualmente eliminará os longos intervalos de ausência da mente, que você
chama de sono. Você ficará consciente de que está dormindo.

Q: Mas o problema da permanência, da continuidade do ser, ainda
continua sem solução.

M: A permanência é mera idéia, nascida da ação do tempo. O tempo, por
sua vez, depende da memória. Por permanência você entende uma memória que
não falha através de um tempo que seja contínuo. Você quer eternizar a mente, o
que não é possível.

Q: Então o que é eterno?

M: Aquilo que não muda com o tempo. Você não pode eternizar uma
coisa transitória - somente o imutável é eterno.

Q: Estou familiarizado com o sentido geral do que você diz. Não desejo
mais conhecimento. Tudo que eu quero é paz.

M: Você pode obter toda paz que você quer apenas pedindo.

Q: Eu estou pedindo.

M: Você deve pedir com um coração não dividido e viver uma vida
integrada.

Q: Como?

M: Desprenda-se de tudo que não deixa sua mente descansar. Renuncie a
tudo que perturba sua paz. Se você quer paz, mereça-a.

Q: Certamente todos merecem paz.

M: Somente a merecem aqueles que não a perturbam.

Q: De que forma eu perturbo a paz?

M: Sendo um escravo de seus desejos e medos.

Q: Mesmo quando eles são justificáveis?

M: Reações emocionais, nascidas da ignorância e da inadvertência, nunca
se justificam. Procure uma mente clara e um coração limpo. Tudo que você
precisa é manter-se bem alerta, investigando a verdadeira natureza de você
mesmo. Este é o único caminho para a paz.

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