terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Krishnamurti - o que se entende por razão?
A razão é pensamento organizado, como a lógica são idéias organizadas (…). E o pensamento, por mais inteligente, vasto, erudito que seja, é limitado. (…) O pensamento nunca pode ser livre. O pensamento é reação, reação da memória; é “processo” mecânico. Ele poderá ser razoável, ser são, ser lógico, mas é limitado.
É como os computadores. E o pensamento nunca pode descobrir o que é novo. O intelecto adquiriu, acumulou experiências, reações, lembranças; e quando essa coisa pensa, está condicionada e, portanto, não pode descobrir o novo.
Quando, porém, esse intelecto compreendeu todo o processo da razão, da lógica, do investigar, do pensar - não rejeitou, mas compreendeu - então ele se torna quieto. (…) E então esse estado de quietude pode descobrir o que é verdadeiro."
Krishnamurti - O Passo Decisivo
Krishnamurti - culpa
Sinto culpa, por que lhe dou nome? Eu a nomeio instantaneamente. Nomeá-la é reconhecê-la, portanto tive esse sentimento antes. Certo? E tendo tido antes, eu o reconheço agora. Pelo reconhecimento reforço o que aconteceu antes. Certo? Estão acompanhando isto? Não? Eu reforcei a memória da culpa anterior dizendo, "Eu sinto culpa". Então olhe o que aconteceu. Toda forma de reconhecimento reforça o passado. E o reconhecimento acontece pelo nomear. Assim por e através do reconhecimento eu reforço o passado. Por que a mente faz isso? Não me respondam por favor. Por que a mente faz isso, por que ela sempre reforça o passado dizendo. "Eu tive culpa, eu tenho culpa, é terrível sentir culpa, como vou me livrar dessa culpa?" - por que ela faz isso? É porque a mente precisa estar ocupada com alguma coisa? Compreende? Ela precisa estar ocupada, seja com deus, com fumo, com sexo, com alguma coisa, ela tem que estar ocupada, daí tem medo de não ficar ocupada. Certo? E ocupando-se com o sentimento de culpa, nesse sentimento existe certa segurança. Pelo menos consegui essa coisa, não tenho mais nada mas pelo menos tenho esse sentimento de estar culpado. Então o que está acontecendo? Pelo reconhecimento, que é nomear, a mente está reforçando um sentimento passado, que aconteceu antes, e assim a mente fica constantemente ocupada com esse sentimento de culpa. Isso dá a ela certa ocupação, certo sentido de segurança, certa ação a partir disso que se torna neurótico. Então o que acontece? Posso eu, quando o sentimento surge, observá-lo sem nomear? Então descubro que quando não dou nome, a coisa não existe mais.
Krishnamurti. Reflections on the Self
domingo, 20 de janeiro de 2013
Eckhart Tolle - perceber sem nomear
As pessoas, em sua maioria, estão apenas superficialmente conscientes do mundo que as cerca, sobretudo quando estão familiarizadas com o ambiente em que se encontram. A voz na cabeça absorve a maior parte de sua atenção.
Há quem se sinta mais vivo quando viaja e conhece lugares desconhecidos ou outros países porque, nessas ocasiões, a percepção sensorial ocupa mais a sua consciência do que o pensamento. Esses individuos se tornam mais presentes.
Outros permanecem sob o total dominio da voz da cabeça até mesmo nessas situações. Suas percepções e sensações sãp distorcidas por julgamentos instantâneos. Na verdade, eles não chegaram a ir a lugar nenhum. Apenas seu corpo está viajando, enquanto eles permanecem onde sempre estiveram: na própria cabeça.
Essa é a realidade da maior parte das pessoas: tão logo alguma coisa é percebida, ela é nomeada, interpretada, comparada com outra coisa qualquer, apreciada, detestada ou chamada de boa ou má pelo eu-fantasma, o ego. Elas estão aprisionadas nas formas pensamento, na consciência do objeto.
Ninguem desperta espiritualmente enquanto não interrompe o processo compulsivo e inconsciente de nomear, ou pelo menos, até que tome consciência dele e assim seja capaz de observá-lo enquanto ocorre.
É por meio desse nomear constante que o ego permanece em atividade como a mente não observada. Sempre que ele pára e até mesmo quando nos tornamos conscientes dele, há lugar para o espaço interior e então deixamos de ser possuidos pela mente.
Agora, escolha um objeto próximo a você - uma caneta, uma cadeira, uma xícara, uma planta - e examine-o visualmente, ou seja, olhe para ele com grande interesse, quase com curiosidade.
Evite itens com fortes associações pessoais que o façam se lembrar do passado, como onde você os comprou, de quem os ganhou, etc. Deixe de lado também tudo o que tenha algo escrito, como um livro ou uma garrafa. Isso pode estimular o pensamento.
Sem fazer esforço, relaxado mas alerta, dedique total atenção ao objeto, a cada detalhe dele. Se surgirem pensamentos, não se envolva com eles. Não é neles que você está interessado, e sim no ato da percepção em si.
Você consegue tirar o pensamento da percepção?
É capaz de observar sem sem que a voz na sua cabeça faça comentários, tire conclusões, compare ou tente descobrir alguma coisa?
Depois de uns dois minutos, deixe seu olhar vagar pelo ambiente, com sua atenção alerta iluminando cada coisa sobre a qual ela pousar.
Depois, ouça os sons que possam estar presentes. Faça isso da mesma maneira como olhou para as coisas ao seu redor. Talvez alguns sons sejam naturais - água, vento, pássaros - enquanto outros sejam artificiais. Alguns podem ser agradáveis, outros desagradáveis. No entanto, não faça diferenças entre bons e maus.
Deixe casa som ser como ele é, não o interprete.
Nesse caso tambem, o segredo é a atenção relaxada, porém alerta.
No momento em que olhar e escutar desta maneira, você poderá se tornar consciente de um sentimento sutil de calma, que, a principio, talvez seja dificil de perceber. Algumas pessoas o sentem como um silêncio em segundo plano. Outras preferem chamá-lo de paz.
Quando a consciencia não está mais absorvida pelo pensamento, uma parte dela permanece no seu estado natural, não condicionado, sem forma.
Esse é o espaço interior.
Há quem se sinta mais vivo quando viaja e conhece lugares desconhecidos ou outros países porque, nessas ocasiões, a percepção sensorial ocupa mais a sua consciência do que o pensamento. Esses individuos se tornam mais presentes.
Outros permanecem sob o total dominio da voz da cabeça até mesmo nessas situações. Suas percepções e sensações sãp distorcidas por julgamentos instantâneos. Na verdade, eles não chegaram a ir a lugar nenhum. Apenas seu corpo está viajando, enquanto eles permanecem onde sempre estiveram: na própria cabeça.
Essa é a realidade da maior parte das pessoas: tão logo alguma coisa é percebida, ela é nomeada, interpretada, comparada com outra coisa qualquer, apreciada, detestada ou chamada de boa ou má pelo eu-fantasma, o ego. Elas estão aprisionadas nas formas pensamento, na consciência do objeto.
Ninguem desperta espiritualmente enquanto não interrompe o processo compulsivo e inconsciente de nomear, ou pelo menos, até que tome consciência dele e assim seja capaz de observá-lo enquanto ocorre.
É por meio desse nomear constante que o ego permanece em atividade como a mente não observada. Sempre que ele pára e até mesmo quando nos tornamos conscientes dele, há lugar para o espaço interior e então deixamos de ser possuidos pela mente.
Agora, escolha um objeto próximo a você - uma caneta, uma cadeira, uma xícara, uma planta - e examine-o visualmente, ou seja, olhe para ele com grande interesse, quase com curiosidade.
Evite itens com fortes associações pessoais que o façam se lembrar do passado, como onde você os comprou, de quem os ganhou, etc. Deixe de lado também tudo o que tenha algo escrito, como um livro ou uma garrafa. Isso pode estimular o pensamento.
Sem fazer esforço, relaxado mas alerta, dedique total atenção ao objeto, a cada detalhe dele. Se surgirem pensamentos, não se envolva com eles. Não é neles que você está interessado, e sim no ato da percepção em si.
Você consegue tirar o pensamento da percepção?
É capaz de observar sem sem que a voz na sua cabeça faça comentários, tire conclusões, compare ou tente descobrir alguma coisa?
Depois de uns dois minutos, deixe seu olhar vagar pelo ambiente, com sua atenção alerta iluminando cada coisa sobre a qual ela pousar.
Depois, ouça os sons que possam estar presentes. Faça isso da mesma maneira como olhou para as coisas ao seu redor. Talvez alguns sons sejam naturais - água, vento, pássaros - enquanto outros sejam artificiais. Alguns podem ser agradáveis, outros desagradáveis. No entanto, não faça diferenças entre bons e maus.
Deixe casa som ser como ele é, não o interprete.
Nesse caso tambem, o segredo é a atenção relaxada, porém alerta.
No momento em que olhar e escutar desta maneira, você poderá se tornar consciente de um sentimento sutil de calma, que, a principio, talvez seja dificil de perceber. Algumas pessoas o sentem como um silêncio em segundo plano. Outras preferem chamá-lo de paz.
Quando a consciencia não está mais absorvida pelo pensamento, uma parte dela permanece no seu estado natural, não condicionado, sem forma.
Esse é o espaço interior.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Eckhart Tolle - o corpo de dor
O CORPO DE DOR
Por ECKHART TOLLE
No caso da maioria das pessoas, quase todos os pensamentos costumam ser involuntários, automáticos e repetitivos. Não são mais do que uma espécie de estática mental e não satisfazem nenhum propósito verdadeiro. Num sentido estrito, não pensamos- o pensamento acontece em nós.
“Eu penso” é uma afirmação simplesmente tão falsa quanto “eu faço a digestão” ou “eu faço meu sangue circular”. A digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.
A voz na nossa cabeça tem vida própria. A maioria de nós está à mercê dela; as pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente. E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar. O termo oriental para isso é carma.
O ego não é apenas a mente não observada, a voz na cabeça que finge ser nós, mas também as emoções não observadas que constituem as reações do corpo ao que essa voz diz.
A voz na cabeça conta ao corpo uma história em que ele acredita e à qual reage.
Essas reações são as emoções.
A voz do ego perturba continuamente o estado natural de bem-estar do ser. Quase todo corpo humano se encontra sob grande tensão e estresse, mas não porque esteja sendo ameaçado por algum fator externo - a ameaça vem da mente.
O que é uma emoção negativa?
É aquela que é tóxica para o corpo e interfere no seu equilíbrio e funcionamento harmonioso.
Medo, ansiedade, raiva, ressentimento, tristeza, rancor ou desgosto intenso, ciúme, inveja - tudo isso perturba o fluxo da energia pelo corpo, afeta o coração, o sistema imunológico, a digestão, a produção de hormônios, e assim por diante.
Até mesmo a medicina tradicional, que ainda sabe muito pouco sobre como o ego funciona, está começando a reconhecer a ligação entre os estados emocionais negativos e as doenças físicas.
Uma emoção que prejudica nosso corpo também contamina as pessoas com quem temos contato e, indiretamente, por um processo de reação em cadeia, um incontável número de indivíduos com quem nunca nos encontramos. Existe um termo genérico para todas as emoções negativas: infelicidade.
Por causa da tendência humana de perpetuar emoções antigas, quase todo mundo carrega no seu campo energético um acúmulo de antigas dores emocionais, que chamamos de “corpo de dor”.
O “corpo de dor” não consegue digerir um pensamento feliz. Ele só tem capacidade para consumir os pensamentos negativos porque apenas esses são compatíveis com seu próprio campo de energia.
Não é que sejamos incapazes de deter o turbilhão de pensamentos negativos - o mais provável é que nos falte vontade de interromper seu curso. Isso acontece porque, nesse ponto, o “corpo de dor” está vivendo por nosso intermédio, fingindo ser nós. E, para ele, a dor é prazer. Ele devora ansiosamente todos os pensamentos negativos.
Nos relacionamentos íntimos, os “corpos de dor” costumam ser espertos o bastante para permanecer discretos até que as duas pessoas comecem a viver juntas e, de preferência, assinem um contrato comprometendo-se a ficar unidas pelo resto da vida.
Nós não nos casamos apenas com uma mulher ou com um homem, também nos casamos com o “corpo de dor” dessa pessoa.
Pode ser um verdadeiro choque quando - talvez não muito tempo depois de começarmos a viver sob o mesmo teto ou após a lua-de-mel – vemos que nosso parceiro ou nossa parceira está exibindo uma personalidade totalmente diferente. Sua voz se torna mais áspera ou aguda quando nos acusa, nos culpa ou grita conosco, em geral por uma questão de menor importância.
A essa altura, podemos nos perguntar se essa é a verdadeira face daquela pessoa – a que nunca tínhamos visto antes - e se cometemos um grande erro quando a escolhemos como companheira. Na realidade, essa não é sua face genuína, apenas o “corpo de dor” que assumiu temporariamente o controle.
Seria difícil encontrar um parceiro ou uma parceira que não carregasse um “corpo de dor”, no entanto seria sensato escolher alguém que não tivesse um “corpo de dor” tão denso.
O começo da nossa libertação do “corpo de dor” está primeiramente na compreensão de que o temos.
É nossa presença consciente que rompe a identificação com o “corpo de dor”. Quando não nos identificamos mais com ele, o “corpo de dor” torna-se incapaz de controlar nossos pensamentos e, assim, não consegue se renovar, pois deixa de se alimentar deles. Na maioria dos casos, ele não se dissipa imediatamente.
No entanto, assim que desfazemos sua ligação com nosso pensamento, ele começa a perder energia.
A energia que estava presa no “corpo de dor” muda sua freqüência vibracional e é convertida em “Presença”.
Eckhart Tolle - Conheça um pouco mais de Eckhart Tolle
Conheça um pouco mais de ECKHART TOLLE, autor dos renomados "O Poder do Agora", "Praticando O Poder do Agora", "Um Novo Mundo - O Despertar de Uma Nova Consciência", "O Poder do Silêncio", "O Segredo da Felicidade.
Entrevista à norte-americana Jenny Simon.
CONHECENDO ECKHART TOLLE
por: João Carlos Marcuschi
Faço esta apresentação porque considero os ensinamentos, dele, alinhados àqueles que são abordados nas palestras de Krishnamurti; entretanto, a linguagem é mais acessível ao leitor ainda não acostumado com esta linha de leitura. Certamente, servirá para esclarecer muitos pontos, que as vezes não captamos lendo Krishnamurti.
Eckhart Tolle é um mestre espiritual ocidental, porém profundamente alinhado com a tradição meditativa do Oriente. Hoje mundialmente conhecido pelo livro "O Poder do Agora", durante muitos anos ele compartilhou sua experiência de realização interior apenas com um número muito reduzido de buscadores.
Nos textos que transcrevemos a seguir, Eckart fala a respeito destes primeiros tempos e como o estado de iluminação impactou radicalmente sua vida. Avalia, também, o processo mais amplo de transformação da consciência humana e seus possíveis reflexos no futuro do planeta.
O material foi extraído de uma entrevista concedida por Eckhart à norte-americana Jenny Simon. O encontro aconteceu em Vancouver, no Canadá, onde o mestre (alemão??) atualmente vive.
Jenny Simon - As pessoas ao seu redor devem pensar que você é um pouco lunático. Em sua experiência interior, você nunca questionou o que aconteceu?
Eckhart - Não. Era tão claro e não havia nenhuma pergunta sobre uma realidade que era tão óbvia. Uma vez eu disse que mesmo se tivesse encontrado o Buda e ele me apontasse “não, não é isso”, eu diria – “que interessante, mesmo Buda pode estar errado”.
Isto não é algo do ego, é só para deixar claro como essa realidade é tão óbvia que nenhuma questão mental, nenhuma pergunta adiantaria.
Por exemplo, se alguém me desse uma maçã e dissesse “não, não é uma maçã”, eu diria “não, eu sei que é”.
Jenny Simon - Você aponta que seu estado de consciência implicou numa redução de 80% na atividade de sua mente pensante. Isso criou alguma espécie de carência ou algo parecido?
Eckhart- Bem, não tanto para mim, mas para as pessoas ao meu redor (risos).
Isso é certo, pois as pessoas que me conheciam, especialmente a família, pais, alguns amigos, pensaram que algo errado tinha acontecido comigo – isto porque por algum tempo, após a mudança, eu prossegui com as estruturas externas de minha vida. Apenas prosseguia como se nada houvesse acontecido, porque ainda havia um “momentum” e continuei seguindo-o durante três ou quatro anos.
Então percebi que essas estruturas externas estavam totalmente fora do alinhamento com meu ser – no mundo acadêmico totalmente dominado pela mente, o ego dominado completamente. Então aconteceu um momento em que deixei tudo para trás...
Foi aí que as pessoas pensaram que eu estava realmente louco – abandonado uma promissora carreira acadêmica e indo sentar-me em um banco do parque, sem fazer mais nada. Era bem estranho, porque eu não tinha nenhuma orientação espiritual, ninguém para dizer-me “você não precisa viver no banco do parque, você pode continuar funcionando no mundo”.
Eu defini isso por mim mesmo.
E isso levou bastante tempo, para que então eu pudesse de novo continuar funcionando no mundo. Por uns tempos, o estado da presença, do ser, era tão satisfatório, belo e completo que perdi todo o interesse no futuro... quanto mais ter ambição ou viver para adquirir isto ou aquilo. Se o momento presente era tão preenchedor, por que precisaria do futuro?
Mas naturalmente, no nível prático o futuro ainda opera, e saber disso às vezes ajuda.
Você precisa tomar um avião daqui a alguns dias, ou aprender algo que leva certo tempo, aprender uma língua, ou o que quer que seja. Mas, eu não mais necessitava do futuro, internamente, e passaram-se anos antes que eu começasse a ser capaz de lidar com o mundo novamente, sem necessitar dele – era quase como uma forma de brincadeira.
Iniciar coisas, fazer coisas e, miraculosamente, também um bom tanto de coisas vinham a mim... Mesmo enquanto estava sentado no banco do parque, com quase nada em meu bolso, geralmente no último momento alguma ocorria ou alguém vinha e novamente eu tinha algo com que viver, por enquanto. Milagrosamente isso sempre acontecia, e gradualmente, então, eu comecei a funcionar no mundo de novo.
Devo dizer que duas ou três vezes tentei voltar às estruturas do mundo, sentia que meu tempo no banco do parque estava terminando, então me dizia: “Ok, é melhor eu fazer alguma coisa”.
Uma vez me candidatei a um emprego, e isso é bem engraçado, um emprego num banco mercantil na cidade de Londres (riso). Durante a entrevista, ouviram-me com interesse, mas não me deram o lugar.
Depois candidatei-me a um emprego acadêmico e houve outra entrevista, só que devo ter dito algo, embora tenha procurado evitar a linguagem espiritual, mas... havia seis ou sete professores ao meu redor e ao final da entrevista um deles me perguntou: o que você realmente quer fazer? (riso).
E na realidade não havia nada que eu realmente quisesse fazer, então essa foi a minha última entrevista – eu percebi que na realidade não queria voltar às estruturas do mundo.
Foi então que gradualmente as pessoas vieram e passaram a me fazer perguntas, começando com situações de ensino informal.
Algo um pouco mais estruturado surgiu e então eu me tornei um professor espiritual aos olhos do mundo (risada), foi isso que aconteceu. Não ganharia um emprego se colocasse no meu currículo “não mais preciso pensar”, mas realmente é o que acontece.
O próprio poder de ensinar vem desse estado, da consciência.
Não sou eu, e sempre que começo a falar tenho essa sensação de que não tenho nada, absolutamente nada, a dizer.
Assim, não é realmente esta pessoa que está fazendo qualquer coisa.
Todo o ensinamento que tem causado um certo impacto no mundo vem desse estado de não-pensamento, não tem nada a ver com esta pessoa aqui... (riso)
Jenny Simon - Eu ouvi você várias vezes citar o mestre indiano Ramana Maharshi. Como se mede o progresso espiritual? É pela ausência do pensamento? Você acredita nisso realmente?
Eckhart - Sim, sim. No grau da ausência de pensamento, sim, está certo.
É simples, muito simples.
A mente pode dizer: “ok” – mas isto significa que não fiz nenhum progresso, porque estou pensando o tempo todo. Talvez você não saiba que já há ausência de pensamento em si, talvez algum breve momento, mas não importa...
Você respondeu à beleza?
Deve haver ausência de pensamento em você, porque de outra forma não veria a beleza.
Esse momento é ausência de pensamento.
Pode haver muitos momentos de ausência de pensamento – de repente você percebe: “Gente, há ocasiões em que o pensamento está ausente”. Ou você pode exclamar: “Oh! Eu não estou pensando!” (riso). E você já está pensando de novo.
Algumas vezes você sabe que não está pensando e ainda não está pensando (riso).
Mas é bom não tentar provocar esse estado, porque poderia ser um esforço muito grande.
A forma mais rápida de tornar-se livre de pensamento é ainda render-se ao momento, aceitar este momento como ele é, porque se você observa o processo de pensar compulsivo, descobre que sempre está associado à não-aceitação.
A não-aceitação é a característica essencial do estado egóico criado na mente – a não-aceitação do agora.
E toda a compulsão realmente é uma fuga, é o negar da beleza e da vida do agora.
Quando você vê a verdade disso, pode aceitar este momento como ele é.
É um estado de grande força – não de fraqueza, como a mente pode dizer-lhe, exceto que há um efeito colateral dessa aceitação, a mente deixada de fora, porque quando você não está lutando com o que é, a compulsão para pensar cessa.
Isso é algo que requer continuidade da prática espiritual.
Muitas vezes você não aceita o que é e então percebe que está novamente negando o agora.
E essa percepção está certa, quando você vê a não-aceitação, já está livre dela.
Quando você não vê a não-aceitação, então fica novamente preso em todo o ruído mental, porque não está aceitando o que é.
Assim, a mais poderosa prática espiritual é aceitar este momento como ele é.
Aceitação descomprometida deste momento como ele é.
É por isso que grandes mestres às vezes parecem tão aterradores, embora sejam gentis internamente, na realidade. Olhando velhos retratos ou fotos de grandes mestres, seus olhos são tão aterradores. Sim, descompromissado agora, sim, não movendo, estando aberto. E este estado é tanto gentil quanto aterrador, ambos ao mesmo tempo.
Então essa é a prática espiritual mais poderosa e é realmente a única prática espiritual que não lhe dá tempo (riso). Há tantas práticas espirituais que lhe concedem tempo para tornar-se um bom adepto, praticar mais e mais, gradualmente.
Mas aceitar este momento como ele é, você só pode fazê-lo agora.
Jenny Simon - Freqüentemente temos ouvido você falar sobre a nova consciência que está emergindo e como esse estado está disponível cada vez para um número maior de pessoas. Mas, honestamente, não estou convencida de que isso não seja uma projeção de sua experiência. Não tenho dúvida de que você floresceu como ser humano, mas não vejo evidência, ao meu redor, de que muitas pessoas passarão por isso. Pergunto: você tem alguma premonição de que isso vai acontecer em 5, 10, mil anos? Como isso realmente transformará o mundo?
Eckhart - Certo. Admito que pareço estar no epicentro da onda de transformação porque isso é o que eu faço e as pessoas chegam para estar em contato comigo. Todos que encontro estão sofrendo transformações e às vezes, quando ligo a televisão, sou repentinamente lembrado – “Oh! Não está acontecendo com todo mundo”.
Por causa de minha posição peculiar, admito que certas vezes parece, para mim, que o mundo inteiro está se transformando. Ao mesmo tempo, recebo mesmo imensa massa de correspondência de pessoas que estão relatando mudanças na consciência e enorme diminuição do sofrimento, etc.
Isso eu vejo em toda parte; porém não, não tenho uma escala do tempo, tudo que eu sei é que há uma aceleração de algo. Também sinto que o planeta provavelmente não sobreviverá outros cem anos se a velha consciência predominar por muito tempo no planeta, com tudo que isso significa.
É impossível que a natureza do planeta possa suportar isso.
Assim, pela primeira vez na história humana essa transformação tornou-se uma necessidade, até mesmo para a sobrevivência da espécie. E talvez seja somente assim, em qualquer evolução e transformação, talvez seja apenas quando a espécie alcança um ponto crítico em que a sobrevivência fica ameaçada se ela continuar sem transformar-se – aí então essa transformação acontece em nível coletivo.
Eu acredito – e posso dizer que é quase um fato – que se os velhos padrões de fazer as coisas continuarem por mais cem anos, e naturalmente esses padrões ficarão ainda mais ampliados, os meios de destruição serão maiores e o planeta não será mais capaz de sustentar a vida humana por mais cem anos.
Assim, pela primeira vez na história humana chegamos a um ponto em que a transformação da consciência não é mais um luxo. Talvez tenha havido no tempo de Buda os primeiros florescimentos, também no tempo de Jesus, já apontando para algo novo, uma maneira de ver o que estava acontecendo. Os primeiros sinais disso e depois algumas flores aqui e ali, mas nunca tinha sido uma necessidade para a sobrevivência do planeta e o fim da loucura humana.
Mas depois veio a tecnologia, veio a ciência – sim, também manifestações de grande inteligência – e ainda assim ampliaram a loucura em larga escala. Antes as pessoas tinham sorte se conseguiam matar uns poucos, agora podem matar centenas, milhões com um só aparelho (riso).
Não há mudanças, simplesmente amplia-se o efeito da inconsciência.
E é uma boa coisa, porque vemos mais claramente que nunca.
É chocante para as pessoas que a primeira guerra criou armas poderosas de destruição, provindas da tecnologia, e aí pensamos: o que foi que fizemos?
Milhões e milhões de jovens morrendo nas trincheiras inutilmente – Oh, meu Deus – foi uma abertura da visão da loucura, lá no começo do século XX.
Mas agora sabemos também o que aconteceu no restante do século.
Está em seu rosto agora, é tão óbvio.
Eu sei que o trabalho que faço, qualquer que seja, é uma manifestação da nova consciência e há muitas pessoas atravessando isso. Para salvar o planeta? Eu não sei, talvez não.
Jenny Simon - Então, pode-se dizer que você é uma espécie de necessidade da evolução, de certa forma?
Eckhart - Sim, na realidade é isto que está acontecendo.
É quase como se a espécie estivesse se tornando algo novo, uma nova espécie está evoluindo da velha. E, novamente, não é algo do ego, dizendo eu sou da nova espécie, e você não (riso).
Mas sim, é bem como se uma nova espécie estivesse chegando, e está chegando porque a velha espécie não é mais capaz de sobreviver, a menos que mude (riso).
Jenny Simon - E você pode descrever a nova espécie, quais seriam suas características?
Eckhart - A nova espécie não necessita de inimigos, drama ou conflito para dar-lhe um sentido de identidade e assim, torna-se livre, em grande escala, do conflito e do sofrimento causado pelo homem, que é uma característica da velha consciência.
Buda teve uma bela perspectiva disso, quando disse, para descrever o estado de consciência da liberação, que ela é livre do sofrimento – você não sofre mais. Pode ainda haver dor, porque enquanto houver corpo físico haverá dor, você pode ter uma dor de dente. Mas o sofrimento psicológico é causado pela entidade do eu na cabeça. Você não mais causará sofrimento para si próprio através das estruturas do pensamento. E quando você não mais causa sofrimento para si, não mais causa sofrimento para outros.
A interação entre seres humanos não será mais coberta pelo medo, como é agora – o medo e o desejo, dois movimentos de estado inconsciente.
A interação humana será caracterizada pelo amor e compaixão.
E o amor não será do tipo “preciso de você, não ouse abandonar-me, porque eu não sei o que vou fazer se você me deixar”, o amor da chamada velha consciência.
Amor é simplesmente reconhecer o outro como sendo você próprio, o reconhecimento da unidade é amor.
E todas as interações, quando se reconhece o outro como você próprio, não mais acontecem através da formação de uma imagem, uma identidade da forma, de quem aquela pessoa é.
E porque você vai além da identificação da forma em si própria, não mais constrói pequenas armadilhas e pequenos conceitos de outras pessoas... então o amor reina.
Não se pode conceber o que seria o mundo se uma grande parte da humanidade vivesse nesse novo estado de consciência. Eu não faço, geralmente, considerações sobre esse fato.
Minha suposição sobre isso é de que não seria possível reconhecer a estrutura da natureza humana. Seria muito diferente.
Potencialmente este planeta poderia ser o paraíso – é um paraíso, mas as pessoas se esforçam muito para torná-lo um inferno, contudo ainda é um belo paraíso.
Não estou dizendo que no nível da forma não haverá limitação, sim, as formas ainda vêm e vão. Mas ainda assim a harmonia é possível, viver em harmonia com a natureza.
Viver em um estado de amor, amando a essência de cada forma, pois a vida se manifesta através de milhões de formas de vida.
Amando uma vida da qual milhões de formas são manifestações temporárias, amando-as como a si próprio, sendo elas – esse é o novo estado de consciência.
(Fonte : http://cuidardoser.com.br/conhecendo-eckhart-tolle.asp)
Osho - simplicidade
Todos os seres vivos devem estar rindo do homem.
Os animais não precisam de Deus e são perfeitamente felizes — não consigo ver como eles sintam falta de Deus. Nem um único animal, nem um único pássaro, nem uma única árvore sente falta de Deus.
Eles estão todos aproveitando a vida na sua mais completa beleza e simplicidade, sem nenhuma necessidade de temer o inferno e nenhuma busca ansiosa pelo paraíso, sem diferenças filosóficas. Não existem leões católicos, não existem leões protestantes nem hinduístas.
Todos os seres vivos devem estar rindo do homem, do que aconteceu aos seres humanos. Se os pássaros podem viver sem religiões, igrejas, mesquitas e templos, por que o homem não consegue? Os pássaros nunca travam guerras religiosas; nem os animais, nem as árvores.
Mas você é muçulmano e eu sou hinduísta, e nós não podemos coexistir — ou você se converte à minha religião ou se rende; ou vou lhe mandar para o céu imediatamente!
Osho, em "Intuição: o Saber Além da Lógica"
Krishnamurti - sexo
Nada é condenável se resulta de algo que esteja realmente dentro de nós
Perguntei a Krishnamurti se ele julgava condenável que as pessoas fortemente sexuadas cedessem a seus instintos. "Nada é condenável se resulta de algo que esteja realmente dentro de nós", foi sua resposta. "Atenda a seu instinto, se ele não foi instigado por estimulantes superficiais e o consome interiormente - e, assim, não haverá problema sexual em sua vida. Só se cria o problema quando alguma coisa dentro de nós, real, encontra oposição por parte de considerações intelectuais".
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