terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Krishnamurti - culpa



Sinto culpa, por que lhe dou nome? Eu a nomeio instantaneamente. Nomeá-la é reconhecê-la, portanto tive esse sentimento antes. Certo? E tendo tido antes, eu o reconheço agora. Pelo reconhecimento reforço o que aconteceu antes. Certo? Estão acompanhando isto? Não? Eu reforcei a memória da culpa anterior dizendo, "Eu sinto culpa". Então olhe o que aconteceu. Toda forma de reconhecimento reforça o passado. E o reconhecimento acontece pelo nomear. Assim por e através do reconhecimento eu reforço o passado. Por que a mente faz isso? Não me respondam por favor. Por que a mente faz isso, por que ela sempre reforça o passado dizendo. "Eu tive culpa, eu tenho culpa, é terrível sentir culpa, como vou me livrar dessa culpa?" - por que ela faz isso? É porque a mente precisa estar ocupada com alguma coisa? Compreende? Ela precisa estar ocupada, seja com deus, com fumo, com sexo, com alguma coisa, ela tem que estar ocupada, daí tem medo de não ficar ocupada. Certo? E ocupando-se com o sentimento de culpa, nesse sentimento existe certa segurança. Pelo menos consegui essa coisa, não tenho mais nada mas pelo menos tenho esse sentimento de estar culpado. Então o que está acontecendo? Pelo reconhecimento, que é nomear, a mente está reforçando um sentimento passado, que aconteceu antes, e assim a mente fica constantemente ocupada com esse sentimento de culpa. Isso dá a ela certa ocupação, certo sentido de segurança, certa ação a partir disso que se torna neurótico. Então o que acontece? Posso eu, quando o sentimento surge, observá-lo sem nomear? Então descubro que quando não dou nome, a coisa não existe mais.

Krishnamurti. Reflections on the Self

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